VERBETES:    José Ferreira Junior

L’ Eco del Pará

A consolidação da imprensa no Estado do Pará, no período do final século XIX ao início do século XX, se dá no bojo de um processo de urbanização de sua capital, a cidade de Belém, por intermédio do qual há um incremento das relações socioeconômicas, assim como se testemunhou também o surgimento de um espaço público, arena em que se desenrolava o debate político e administrativo.

Constata-se, do ponto vista de pesquisadores paraenses (SEIXAS, CARVALHO, FERNANDES, 2012, p.79), a maneira referendária de como se dava a assimilação dos meios impressos na condição de intérpretes da sociedade oitocentista do Pará.  Acrescente-se a esse cenário, da chamada Belle Époque paraense, a transumância pela qual passou a Amazônia em geral, o Pará em particular, responsável pela duplicação do número de residentes na região entre 1872 a 1900, motivada pelo apogeu da extração da borracha (FURTADO, 2000, p.137).

Nesse contexto, surge, em 29 de maio de 1898, L’ Eco del Pará que segundo o catálogo Jornais Paraoaras (1985, p. 166) era uma publicação semanal, escrita em língua italiana, apresentando-se com a missão de ser um órgão de imprensa dos interesses do Pará na Itália e dos italianos no Pará.  A mesma fonte informa que a publicação circulou até 1900, porém apenas a primeira edição foi preservada.  Tratava-se de um jornal com duas sedes: uma em Belém e outra em Milão, estando na função de redator-proprietário, Mario Cattaruzza. O jornal tinha quatro páginas, sendo a última dedicada aos anúncios, prevalecendo, quase sempre, os lojistas e os profissionais liberais de sobrenome italiano, sinalizando para uma inserção do periódico na sociedade paraense. Vinculado ao comércio e jornalista, Cattaruzza assina o artigo de fundo, precursor do que nos dias de hoje se conhece na classificação de gênero editorial, postado na primeira página do jornal na primeira edição.

O texto é rico em referência ao comércio internacional da “gomma” elástica e aponta, por exemplo, a empresa italiana Pirelli, elencada na categoria de importadora do produto amazônico na Itália. A abordagem mais informativa acerca do cotidiano da cidade de Belém se intitula “La vita al Pará”.  A tessitura textual informa ao leitor italiano acerca do clima e dos costumes de Belém, pormenorizando os aspectos climáticos referentes ao fim da estação chuvosa e o início da estação seca naquele momento em que a edição do L’ Eco del Pará circulava: o final do mês de maio.

Há, ainda, referências ao hábito da “siesta” após o almoço e são feitas alusões ao patrimônio urbanístico e arquitetônico de Belém, destacando-se a “Piazza della República”, até os dias de hoje orgulho dos habitantes locais.  Pelo que se observa, o jornal vai ao encontro dos objetivos principais da imprensa de imigrantes (ESCUDERO, 2010, p. 665) no sentido de propiciar assistência aos recém-chegados, pouco familiarizados com o idioma do país para o qual migraram, além de proporcionar um canal para a difusão da cultura de origem.

Eco-del-Para

REFERÊNCIAS

BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ. Jornais paraoras: catálogo. Belém: Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, 1985.

ESCUDERO, Camila. Imprensa de imigrantes. In: Enciclopédia INTERCOM de Comunicação. São Paulo: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, 2010.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 27. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Publifolha: 2000.

SEIXAS, Netília Silva dos Anjos; CARVALHO, Vanessa Brasil de; CARVALHO Vanessa Brasil de; FERNANDES, Phillippe Sendas de Paula. Imprensa paraense: um pouco da história da mídia na Amazônia. In: MALCHER, Maria Ataíde; MARQUES, Jane; Paula, Leandro Raphael N. de. História, comunicação e biodiversidade na Amazônia. São Paulo: Acquerello, 2012. p. 69-81.