VERBETES:

 Lucia Chermont (UNESP)

 

 

Josef Halevi, idealizador dos dois primeiros periódicos em iídiche no Brasil

Publicado em 24/05/2018.

O primeiro periódico em iídiche no Brasil, o Di Menscheit (A Humanidade), foi uma iniciativa do jornalista vindo da argentina conhecido como Josef Halevi, em Porto Alegre (1915). O jornalista figurava como redator do jornal e editor da Iidcihe Zeitung Guezelschaft (Sociedade Jornal Israelita), preenchia quase sozinho, as quatro páginas do semanário e publicava correspondências de várias procedências do país. O periódico durou pouco e sobre o fim da publicação, segundo alguns, se deu por motivos políticos: Halevi era adversário das potências centrais e escrevia artigos inflamados contra eles. Como o jornalista não era habituado a harmonizar com as pessoas, fechou o jornal, na esperança de fundar um novo que não dependesse tanto dos proprietários. O segundo periódico em iídiche no Brasil, o Di Idiche Tzukunft (O Futuro Israelita) de orientação anarquista, foi inciativa do mesmo jornalista, em Porto Alegre (1920) e também durou pouco.

Quem era Josef Halevi e qual sua origem? Josef Halevi veio para a Argentina um ou dois anos antes da Primeira Guerra Mundial, dava aulas particulares de iídiche, hebraico e francês, e palestras. No jornal Unzer Vort (Nossa Palavra) de Buenos Aires, em 1913, escreveu um artigo onde defendia o iídiche em relação ao hebraico, o universalismo frente aos ortodoxos, o socialismo frente ao sionismo. Quando o Di Presse (A Imprensa) foi fundado na Argentina, em 1918, Josef Halevi era um de seus redatores e escrevia assuntos políticos. Colaborava com o Hatzefira, jornal de Varsóvia, editado por Naum Sokolov[1], e em jornais pelo mundo, como o jornal judaico norte-americano Morgen Jornal e um jornal francês, em Paris, sempre com pseudônimos.  Seu verdadeiro nome era Josef Levinson, mas se autodenominava Josef Halevi e utilizava os pseudônimos Der Voloziner (referência ieshivá de Volozin, onde estudou), e A Yi Don Bord (Um judeu sem barba) nos artigos. Costumava literalmente vir a pé para o Brasil e voltar sem que ninguém soubesse quando chegara. Tinha hábitos humildes e se alimentava com um pouco de arroz e leite, que cozinhava sozinho sobre a espiriteira colocada no chão. Foram encontrados na imprensa judaica brasileira, em português, dois anúncios no jornal A Columna, em agosto de 1916, onde Josef Halevi oferecia-se para ensinar e dar, com pronúncia asquenazita[2] ou sefaradita[3], aulas de hebraico.

No ano de 1920 foi recebida a informação, no Di Presse de Buenos Aires, de que se encontrava em um manicômio da cidade um homem que não revelava seu nome, era conhecido do jornal e apresentava sinais de loucura, pois, perdera o manuscrito de uma grande obra, no caminho a pé, vindo do Brasil. A polícia o recolheu no meio do caminho a algumas horas de caminhada de Buenos Aires. Quando os colegas do Di Presse e outros chegaram ao manicômio, já o encontraram em um caixão para ser enterrado. Após alguns dias conseguiram transferir o corpo para o Cemitério Israelita, em Liniers, Buenos Aires. Em sua lápide ficou escrito: “Aqui jaz Josef Halevi”, tinha cerca de 50 anos quando faleceu.

Foi feito uma homenagem a Josef Halevi nos Protocolos do Primeiro Congresso Sionista no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1922. E o primeiro historiador a dar importância ao pioneirismo de Josef Halevi foi Jacob Nachbin, em um artigo publicado no jornal Iidiche Folkteiztung (Gazeta Israelita), em 21 de maio de 1929, denominando-o como fundador da imprensa judaica no Brasil, assim como fizeram no Congresso Sionista.

Imagens:  O Futuro Israelita, Porto Alegre, 1920; A Humanidade, Porto Alegre, 1915.

Nota:

Naum Sokolov/ Naum Sokolow, líder sionista, autor, tradutor e pioneiro do jornalismo hebraico (1859 – 1936)

Judeus da Europa além Pirineus

3 Judeus do Mediterrâneo, mas pode ser usado também genericamente para judeus do Oriente Médio.

Referências

FALBEL, Nachman. Judeus no Brasil: estudos e notas. São Paulo: Humanitas; Edusp, 2008.

HALPERN, Josef. Contribuição para a história da imprensa judaica no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Instituto Cultural Judaico Marc Chagal; Museu Judaico de Porto Alegre, 1999

Para citar este artigo:
CHERMONT, Lucia. Josef Halevi, idealizador dos dois primeiros periódicos em iídiche no Brasil. In Site TRANFOPRESS Brasil, disponível em: http://transfopressbrasil.franca.unesp.br/verbetes/josef-halevi-idealizador-dos-dois-primeiros-periodicos-em-iidiche-no-brasil/?preview=true&preview_id=1714&preview_nonce=18be5717a7