A Biblioteca Digital da Unesp e o TRANSFOPRESS Brasil

Tania Regina de Luca

Unesp/CNPq

Publicação original: abril/2016

A Universidade Estadual Paulista (Unesp), em sintonia com a tendência das instituições em disponibilizar por meio digital os seus acervos, colocou em prática, a partir de 2011, um rol de medidas visando coordenar as diferentes iniciativas no campo da digitalização, levadas a efeito por diferentes órgãos da universidade, e mapear o material de suas várias biblioteca e centros de documentação que pudesse ser colocado ao alcance dos interessados em suporte digital, respeitando-se os aspectos relativos aos direitos autorais. Assim, desde meados de 2012 está no ar a Biblioteca Digital da Unesp (http://bibdig.biblioteca.unesp.br/).

Cabe destacar que há um longo caminho entre a seleção do que será colocado na rede até o acesso efetivo dos leitores. A preservação de documentos, independente do suporte e natureza, conta com regras estabelecidas pelo Conselho Nacional de Arquivos (CONARq), o que inclui a geração de matrizes, que devem ser produzidas em conformidade com as normas do órgão.[1] Estas, em alta resolução, geram arquivos pesados que precisam ser armazenados em storages de grande porte e contar com cópias de segurança. Feita a digitalização e armazenada a matriz, é preciso produzir uma versão em qualidade menor, de modo a disponibilizá-la no sítio.

Tal disponibilização, por seu turno, também requer escolhas em termos de software e, seguindo padrões internacionais, optou-se pelo D Space, que não implica em custos e permite alterações de acordo com as necessidades dos usuários. Além disso, há todo um trabalho de retaguarda no campo da informática, que deve assegurar o acesso ao sítio de maneira ininterrupta ao longo de todos os dias do ano. Ao lado desse trabalho de caráter mais técnico e operacional, é preciso contar com bibliotecários para produzir os metadados, essenciais para que se possa usar as potencialidades do programa e recuperar as informações.

A questão de como apresentar o material para o leitor é outro ponto crucial. A diversidade do que a instituição possui, que vai da Botânica à Filosofia, da Odontologia à História, implicou em organizar coleções, de modo a conferir sentido a cada conjunto, que se torna único na medida em que, no seu interior, as obras relacionam-se de maneira particular.

Atualmente a Biblioteca Digital da Unesp conta com as seguintes comunidades, que se subdividem em coleções: Livros, Mapas, Música, Documentos interessantes para História de São Paulo e Hemeroteca. Parte do que está disponível provem da Arquivo Público do Estado de São Paulo, Biblioteca Mário de Andrade, Biblioteca Nacional do Janeiro, Instituto Martius Staden, instituições que firmaram parcerias com a Unesp.

A Hemeroteca contém as coleções Periódicos Unesp (Jornal da Unesp, Unesp Ciência e Unesp Informa), Canto Libertário, formada por jornais anarquistas publicados entre 1906-1995, pertencentes ao Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP/Assis), um rol diversificado de títulos impressos em São Paulo, nas mais diversas línguas, enfeixados sob o título Periódicos Paulistas e, ainda, Instrumentos para pesquisa sobre impressos periódicos, que engloba o famoso levantamento dos jornais paulistas existentes entre 1823 e 1914, publicado por Affonso Antonio de Freitas (1870-1930), e dois Livros de registro de entrada de jornais e revistas, pertencentes à antiga Biblioteca Pública do Estado de São Paulo, que recobre os anos 1911-1934.

Uma das grandes vantagens do meio digital é a possibilidade de um título figurar em mais de uma comunidade e coleção. Foi justamente o fato de a Unesp sediar o projeto TRANSFOPRESS Brasil que deu origem à coleção Periódicos em Língua Estrangeira, que seleciona todas as publicações em língua diversa do português.

È importante ter presente que uma das maiores dificuldades para a pesquisa neste tipo de periódicos é o acesso, seja pelo seu estado de conservação, que impede a consulta direta aos exemplares, seja por sofrerem de certa invisibilidade no acervo, isso em função de nem sempre estarem classificados pela cidade na qual foram impressos. Assim, por exemplo, é difícil precisar se um impresso em francês foi produzido na França, Bélgica, Suíça, Canadá ou outro país. Essa dificuldade não é exclusividade brasileira, como ficou claro no primeiro encontro da Rede TRANSFOPRESS, realizado na Biblioteca Nacional de Paris, oportunidade em que o responsável pela hemeroteca da instituição, Philippe Mezzasalma, relatou dificuldades da mesma ordem.

Com o intuito de evitar esse problema, a jovem Biblioteca Digital da Unesp adotou procedimentos claros neste item, tornando-se parceira dos pesquisadores do TRANSFOPRESS. Atualmente, a rubrica Jornais em Língua Estrangeira abriga títulos em alemão, árabe, espanhol, francês, Inglês e italiano, fossem ou não publicados no Brasil, uma vez que o recorte da Biblioteca é bem mais amplo do que o estabelecido pelo TRANSFOPRESS Brasil, mas especificando claramente o lugar de publicação do título.

Para os objetivos específicos do projeto, merece especial atenção merece a lista de jornais em alemão, fruto da parceria entre a Unesp e o Instituto Martius Staden, que permitiu a disponibilização do Germania: Deutsche Zeitung für Brasilien [Germânia: Jornal alemão para o Brasil] desde seu terceiro ano de publicação, em 1880 até 1922. Por ser o primeiro jornal em língua alemã, teve grande importância representando a comunidade, cultura e economia alemã em São Paulo; Deutsche Zeitung [Jornal alemão], que remonta a 1897 e que acabou comprando o Germania em 1923, alguns números relativos ao ano de 1913 do  Deutsche Zeitung für Rio de Janeiro [Jornal Alemão para o Rio de Janeiro], além do Deutscher Morgen: Wochenblatt der NSDAP für Brasilien [Aurora Alemã: jornal semanal do partido nazista NSDAP para o Brasil], que circulou até 1941. Essa parceria rendeu à Biblioteca Digital o selo do Ano da Alemanha no Brasil.

Ainda como fonte importante para o projeto há alguns títulos em francês publicados em São Paulo, pertencentes ao acervo do Instituto Histórico e Geográfico paulista, atualmente depositados no Arquivo Público do Estado de São Paulo, além de um título em árabe e vários em italiano e espanhol, que também foram incorporados à Biblioteca Digital que, desta forma, contribui com os pesquisadores que se dedicam ao estudo de jornais em língua estrangeira produzidos entre nós.

[1] Como bem esclareceram FREITAS, Carla; KNAUSS, Paulo. Usos eletrônicos do passado e política de arquivos. Patrimônio e Memória, v.4, n.2, p. 3-16, jun. 2009, p. 12: “A Lei Federal nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados, estando amparada no preceito constitucional que consta do parágrafo nº 2, inciso V, artigo nº 216 da Constituição de 1988, que determina à administração pública a gestão da documentação produzida pelo governo, sendo sua responsabilidade franquear a consulta. O artigo nº 26 desta mesma Lei Federal cria o Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ. Assim, fica identificado o órgão responsável pela definição de normas técnicas e pelo estabelecimento de diretrizes para o funcionamento do Sistema Nacional de Arquivos visando à gestão e a preservação de documentos”.